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5 de agosto de 2022 - 19:34 - Em destaque Notícias

‘Não tenho orgulho de ser o primeiro professor titular negro da Faculdade de Direito da UFBA’, expõe promotor de Justiça baiano

Fundada em 1891, a Faculdade de Direito da UFBA passa a ter, nesta sexta-feira (5), o primeiro negro ocupando o cargo de professor titular na instituição. Quem conseguiu esse feito foi o promotor de Justiça do Ministério Público da Bahia (MP-BA) e professor de Direito Ambiental da instituição de ensino, Heron Gordilho. Ele foi aprovado por uma comissão julgadora, formada por cinco avaliadores da Bahia e de fora do Brasil, após apresentar um memorial.

A banca foi presidida pelo professor emérito da UFBA, vereador e ex-prefeito de Salvador, Edvaldo Brito. Ele dedicou 50 anos de sua vida à universidade baiana e foi o primeiro homem negro a fazer parte do corpo docente da instituição.

“Mas não sou o primeiro titular dessa faculdade. Para que o conseguisse, fui a Universidade de São Paulo (USP), onde tenho duas titularidades iguais a essa que Vossa Excelência se submeteu. Não tive a felicidade e a honra que tem Vossa Excelência, de ser professor titular dessa faculdade, mesmo estando há meio século da minha vida aqui. Esse é um momento singular da minha vida: poder, antes de morrer, presidir nesta casa uma banca de titularidade, e sendo exatamente de um filho, como é Vossa Excelência para mim. Parabéns! Faça nessa casa o que eu nunca consegui fazer”, desejou Brito.

Emocionado, Gordilho agradeceu as palavras e destacou que não sente nenhuma honra pelo fato de ser o primeiro professor titular negro da Faculdade de Direito da UFBA. “Queria ser o centésimo. Tenho orgulho, sim, de alcançar esse cargo. O último membro do Ministério Público que ocupou esse cargo foi professor Calmon de Passos, como professor catedrático […] A nossa sociedade, mesmo sendo composta por 80% de pessoas negras, precisou de 131 anos para um professor negro ocupar esse cargo. Precisou professor Edvaldo ir para a USP para ocupar esse lugar. É essa desigualdade socio-racial que eu luto para que tenha algum tipo de compensação porque uma sociedade menos desigual, menos estratificada significa menos violência, mais desenvolvimento”, argumentou o novo professor titular.

O presidente da AMPEB – Associação do Ministério Público da Bahia, Adriano Assis, que acompanhou a apresentação do memorial à banca julgadora, apontou que a conquista de Gordilho não é apenas individual: “O colega Heron, que é um professor muito reconhecido na Bahia, no Brasil e no exterior, onde já participou de atividades acadêmicas em vários países, como Estados Unidos e França, traz uma conquista para a própria sociedade baiana, pois se trata do primeiro professor negro a alçar à condição de titular na Faculdade de Direito da UFBA. A nossa satisfação é dupla, por se tratar de um colega do MP e por ele ter atingido um dos maiores níveis de ascensão na academia, sendo um docente com uma trajetória brilhante”.

Inspirada no pai, Mariana Gordilho está estudando Direito e não escondeu o orgulho ao vê-lo alcançar mais essa conquista. “É uma honra muito grande e foi muito merecido. Ele estuda continuamente e tenta combater através de ações, mais do que com discursos, problemas relacionados ao preconceito e a questões raciais. Espero que sirva de inspiração para outras pessoas, como serve para mim, vê-lo abordando a quebra de sistemas pré-concebidos”, acrescentou Mariana.

Os procuradores de Justiça do MP-BA Márcia Virgens e Marco Antônio Chaves também acompanharam a apresentação do memorial, assim como alunos e amigos do professor Heron Gordilho.

 

 

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